Agenda 21
Agricultura familiar
Agricultura Orgânica
Agrotóxicos
Biodiversidade
Biopirataria
Biossegurança
Clima/Mudança Climática
Commodities Ambientais
Comunicação Rural
Desenvolvimento sustentado
Ecossistemas
Efeito Estufa
El Niño
Gestão Ambiental
Jornalismo em Agribusiness
Jornalismo Ambiental
Marketing Rural
Pesquisa Agropecuária
Reciclagem
Reforma Agrária
Sem Terra
Setor Rural no Brasil
Transgênicos
Transgênicos


::
Transgênicos e soberania

 

      A avalanche transgênica, caracterizada pela gradativa apropriação e degradação dos recursos tradicionais na agricultura, apóia-se em lobbies empresariais poderosos e tem como objetivo fazer vingar um modelo comprometido com o capital financeiro internacional e interesses excusos. Essa constatação é óbvia quando nos defrontamos com a ação de empresas que, gradativamente, buscam o monopólio das sementes, em particular daquelas que sustentam as monoculturas de exportação.

As empresas transgênicas não apenas defendem a vantagem (sempre discutível) das sementes engenheiradas, mas incorporam em seu processo de gestão uma visão também transgênica, que repudia a diversidade cultural e que é contrária ao debate de idéias. Usam sistematicamente seu poder econômico para ameaçar as vozes que ousam enfrentá-las, como se pode perceber dos processos e acusações contra pesquisadores e jornalistas independentes.

A truculência da ação está afinada com a arrogância do seu discurso, que defende unilateralmente as vantagens das tecnologias modernas e recorre ao processo execrável de manipulação da opinião pública. As empresas transgênicas tentam convencer-nos do caráter democrático e messiânico das suas sementes ("os transgênicos vão matar a fome") ao mesmo tempo em que pressionam os pequenos agricultores e consolidam um sistema que unicamente as favorece. Monopolizam mas não compartilham jamais.

Ao mesmo tempo, insinuam que as resistências aos seus produtos têm a ver com os interesses das empresas de agrotóxicos, tentando omitir, cinicamente, que a relação entre a indústria de biotecnologia e a indústria de agroquímica é umbilical. Afinal de contas, elas estão entre as maiores produtores de venenos (agrotóxico é veneno e não remedinho de planta!) e pretendem, com os transgênicos, apenas estabelecer uma relação direta, exclusiva entre as suas sementes e os agrotóxicos que fabricam. São como as empresas de bebidas que estabelecem a operação casada entre as cervejas e os refrigerantes, obrigando os comerciantes a engolirem o que lhes dá menos lucro. Vendem sementes que só são produtivas com os seus agrotóxicos, o que caracteriza monopólio, truculência comercial, chantagem agroalimentar.

A opção transgênica, desencadeada pelas multinacionais das sementes, é uma ameaça real à nossa soberania porque representa um cerco à agricultura tradicional em todo o mundo.

Se é verdade que a biotecnologia pode gerar soluções importantes para o aumento da produção, respeitadas a segurança alimentar e a saúde das populações, que o Brasil invista em suas próprias empresas (a Embrapa é uma delas, de competência indiscutível) e promova projetos responsáveis para desenvolvê-la. Não deve, como parece ter sido o caso, tornar-se refém de tecnologias estrangeiras patrocinadas por corporações comprometidas apenas com investidores internacionais.

É fundamental que adotemos precaução na pesquisa e no desenvolvimento da tecnologia transgênica e que sobretudo estejamos atentos às ameaças à nossa soberania. Não podemos continuar à mercê de empresas predadoras, monopolistas que acenam com migalhas (não passam disso as parcerias propostas por elas para nossas universidades e instituições de pesquisa) ao mesmo tempo que afrontam a nossa independência científica e tecnológica.

Olho vivo . É bom repetir sempre: quando se poupa o lobo, coloca-se a ovelha em risco. Desconfiemos das empresas que têm santo no nome, criam "embaixadores ambientais" ou proclamam uma cínica sustentabilidade. Nunca são o que parecem ser.

Em tempo: o CIB - Conselho de Informações sobre Biotecnologia, que se pretende fonte qualificada e independente, não é apenas um espaço para a defesa da tecnologia transgênica: é o reduto dos grandes interesses empresariais. Antes de aceitar e fazer circular os releases que ele encaminha, verifique os motivos subjacentes a esta divulgação. Suspeite sempre. Lembre-se: não existe almoço grátis e, no caso dos transgênicos promovidos pelas corporações agroquímicas, certamente é a sociedade brasileira quem deve pagar a conta no futuro. Existe vida além do glifosato. Ainda.

 
 
Webdesign e hospedagem por @ms public
 
Home Voltar para artigos